A mente organizada - Resenha crítica - Daniel J. Levitin
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A mente organizada - resenha crítica

A mente organizada Resenha crítica Inicie seu teste gratuito
Autoajuda & Motivação

Este microbook é uma resenha crítica da obra: A mente organizada: como pensar com clareza na era da sobrecarga de informação

Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.

ISBN: 978-85-390-0700-4

Editora: Objetiva

Resenha crítica

Ignore 39 mil produtos em um supermercado

Todos os dias temos diante de nós inúmeras escolhas. A maioria, banais: onde fazer compras, o que comer, ir de ônibus ou metrô e por aí vai. Nessas horas, não procuramos a melhor opção possível, mas a mais satisfatória. Você não precisa que a lavanderia da sua esquina seja a melhor opção possível.

Se ela só “der para o gasto”, já está bom. A busca pelo satisfatório é uma das bases do comportamento produtivo das pessoas e prevalece quando elas não têm tempo para tomar decisões. Segundo o autor, as pessoas mais felizes são aquelas que adotam a estratégia do bom o suficiente o tempo todo.

Isso importa porque nunca tivemos tantas opções. Em 1976, um supermercado tinha, em média, 9 mil produtos. Hoje, esse número aumentou para 40 mil, ainda que uma pessoa comum supra a maior parte das suas necessidades em um universo de só 150 itens — o que significa que podemos rejeitar mais de 39 mil itens.

O número de decisões que podemos tomar é limitado

Todo o processo de ignorar as opções e se ater àquela que precisamos tem um custo. É a “sobrecarga de decisões”. Não temos dificuldades para achar a opção satisfatória, mas procurá-la tem um custo cerebral. A simples situação de ter que lidar com várias escolhas já traz uma fadiga neuronal.

Quando somos obrigados a tomar várias pequenas decisões, ainda que irrelevantes, pioramos nosso controle de impulsos e o bom senso. O cérebro é configurado para decidir durante um número de vezes por dia e, quando chega ao limite, não podemos decidir mais nada, independentemente de sua importância.

Hoje, lidamos com uma sobrecarga de informações, mais do que em toda história da humanidade. Esse fluxo contém todo tipo de coisa: onde fazemos compras, o que compramos, para onde vamos, como vai a economia, a poluição da China, as descobertas da Nasa e por aí vai. Somos máquinas humanas que processam 34 gigabytes de informação por dia.

A abundância de livros é distração

Os seres humanos estão no mundo há uns 200 mil anos. Durante seus primeiros 99%, não faziam nada além de procriar e sobreviver. Quando a escrita surgiu, há 5 mil anos, a humanidade não teve grande entusiasmo por ela. Originalmente, sua função era prática: escrever recibos de vendas.

Escrever significava que a informação era multiplicável e transmissível sem controle. As pessoas não precisavam mais reter mentalmente nada. Algumas reações foram conservadoras e já intuiam o problema da informação. O filósofo Platão dizia que depender da palavra escrita levaria as pessoas ao “esquecimento em suas almas.”

O pensador estoico Sêneca reclamou que seus colegas estavam desperdiçando dinheiro colecionando livros em excesso. Para ele, abundância de livros é distração. Em vez disso, deveríamos nos concentrar em uma quantidade pequena de bons livros, para lê-los de forma minuciosa e repetida.

Nenhuma outra espécie distingue passado, presente e futuro

Os primeiros humanos organizavam suas ideias em torno de distinções básicas, que fazemos e achamos úteis. Uma delas é entre o agora e o não agora: o que acontece neste momento e o que aconteceu no passado e está guardado na memória. Nenhuma outra espécie é capaz de fazer isso.

Não há outra espécie que pode fazer uma distinção consciente entre o presente, o passado e o futuro. Os humanos são os únicos capazes de se lamentar pelo que passou ou de planejar cuidadosamente o que farão no futuro. As outras espécies até se preparam para o que virá, por exemplo, com a hibernação e os ninhos.

No entanto, são comportamentos instintivos. Nenhum urso medita cuidadosamente como fará para hibernar. Ele simplesmente é pré-programado para agir assim. Temos também a compreensão da permanência de um objeto: não é porque algo não está à vista que deixou de existir.

Tenha uma mesa para cada projeto

Nosso aprendizado sofre influência do local em que ele se dá. É por isso que, quando voltamos a um lugar familiar, nosso cérebro é inundado de lembranças. A dica do autor para explorar esse fenômeno é criar espaços de trabalho diferentes para cada coisa. 

Não deveríamos usar a mesma tela para trabalhar, cuidar das finanças, responder e-mails, ler e ver redes sociais. O cérebro não foi projetado para ter tanta informação em um mesmo lugar. Se tiver condições financeiras para isso, não use o mesmo computador que trabalha também para o lazer. Tenha um dispositivo de mídia específico para isso, como um tablet.

Tenha também um segundo computador, com um diferente plano de fundo, apenas para cuidar das finanças. Se vocẽ estiver trabalhando em dois projetos distintos, separe uma escrivaninha, mesa ou parte da casa para cada um deles. A troca de espaços é uma excelente forma de restaurar o cérebro.

Esqueça o modo multitarefas do cérebro

Os celulares são canivetes suíços de informação. Eles têm calendários, calculadoras, navegadores de internet, agendas, processadores de texto, lanternas e redes sociais. São mais poderosos do que os computadores mais avançados de alguns anos atrás. Nós o encaixamos em qualquer atividade que fazemos.

Respondemos mensagens atravessando a rua e escutamos podcasts lavando a louça. O problema é que isso é uma ilusão. Não fomos feitos para fazer muita coisa ao mesmo tempo. Nosso modo multitarefa aumenta o nível de cortisol e adrenalina, amplificando a tensão e o estresse. Temos um entorpecimento mental.

Há também o vício na “dopamina de feedback”, quando o cérebro se recompensa por perder o foco e buscar estímulos externos. Para piorar, o lado executivo do cérebro tem uma pré-disposição para a novidade — o que significa que pode ser facilmente sequestrado por distrações, como as notificações do celular.

O e-mail e as redes sociais são vícios neurais

Já passamos da metade do microbook e o autor conta que sempre que enviamos um e-mail, experimentamos uma sensação de realização. Isso é fruto da dopamina de curta duração, o neurotransmissor da recompensa. Quando verificamos um post no Facebook ou no X, o antigo Twitter, o mesmo acontece.

As novidades das redes nos traz uma sensação de estarmos socialmente conectados, convertida em doses de dopamina. No entanto, essa é a parte mais instintiva do cérebro. Quando estamos nesse estado, não usamos a parte executiva, responsável por raciocinar, planejar e esquematizar.

É por isso que e-mail, Facebook e X são vícios neurais. A dica do autor é criar sistemas para enganar o cérebro. Por exemplo, escolher certos períodos do dia para verificar os e-mails, deixando-os acumular se preciso. Faça isso só duas ou três vezes ao dia, em vez de parar toda hora para ver cada notificação.

Leia ficção literária

Precisamos tomar cuidado com a dopamina fácil porque muito daquilo que consumimos interfere na forma que vemos o mundo e nos relacionamos com as pessoas. O autor cita um experimento de psicologia cognitiva que mostra que comparava a diferença entre perfis de leitores de livros.

Pessoas que leem livros clássicos e aclamados pela crítica são mais capazes de detectar e interpretar as emoções dos outros, em contraposição aos leitores de ficção popular e não ficção. A razão é o fato de que a ficção literária é cheia de nuances e faz com que as pessoas se esforcem em um processo de decodificar os motivos e os pensamentos dos personagens.

Ficção popular e não ficção têm um nível de complexidade mais baixo. Por isso, são menos exigentes. Quando lemos um livro bem escrito, nosso cérebro preenche a personalidade dos personagens e prevê seus atos. Viramos participantes ativos da história. A leitura permite isso porque avançamos no nosso próprio ritmo.

O modo padrão do cérebro

Você talvez já tenha ficado sentado em um trem ou avião, sem nada para ler e sem olhar para nada em específico, só deixando a mente vagar e sentindo uma onda de relaxamento. Nesse estado, os pensamentos passam sem barreiras, brotando de forma espontânea e quase aleatória.

Esse é o “modo padrão” do cérebro, o estado de onde sai a criatividade. É nele que encontramos a solução para os problemas. É uma espécie de modo de descanso. É por isso que as pessoas se sentem tão revigoradas quando voltam de férias. Esse modo do cérebro surge quando não estamos entregues a nenhuma tarefa objetiva.

O modo padrão contrasta com o nosso modo executivo, quando prestamos atenção intensa a uma tarefa. Isso explica a razão pela qual manter o foco é algo cansativo. Por isso, não podemos deliberar sobre tantos assuntos no mesmo dia e somos muito ruins quando agimos no modo multitarefas.

Você não faz um bom trabalho no modo multitarefas (ainda que pense que faz)

Apesar das evidências de que o modo multitarefas não é uma boa estratégia para produzir mais, as pessoas ainda se recusam a abrir mão dele. Olhamos os multitarefistas como pessoas hiperprodutivas que terão um futuro brilhante. No entanto, a realidade mostra o contrário.

Normalmente, multitarefistas são péssimos na qualidade de cada tarefa que fazem e lentos ao alternar de uma tarefa para outra. Nossa atenção é mais limitada do que parece. Quando fazemos o inverso — uma tarefa por vez — fortalecemos a conectividade do cérebro e sua rede de devaneio. Isso é uma forma de prevenir Alzheimer.

Adultos mais velhos que fazem treinamentos de atenção têm seus padrões de atividade cerebral rejuvenescidos. As pessoas não percebem o quão ruim são nas multitarefas por causa da ilusão cognitiva, alimentada pela dopamina e que faz com que os multitarefistas pensem que estão fazendo um bom trabalho.

Quem tem um relógio sempre sabe as horas; quem tem dois nunca tem certeza

Costumamos entrar em contato com uma informação porque somos informados explicitamente ou porque tivemos que descobrir por conta. As pesquisas mostram que o segundo tipo de aprendizado é o mais eficiente. Sabemos mais quando somos instigados a raciocinar. É o que acontece com a arte. 

A ficção bem escrita nos leva a refletir sobre a trama. Já o entretenimento rápido da televisão e das redes sociais vai pelo caminho oposto. A deliberação fica mais difícil em nossos cérebros acostumados à abundância de informações. Na internet, o que importa não é se sabemos algo, e sim, se sabemos onde procurar e depois conferir se a resposta está certa. 

Há um excesso de desinformação e teorias da conspiração. Antes, bastava ir a uma biblioteca para conferir uma informação. Hoje, precisamos decidir entre milhares de opiniões diferentes. Como diz o ditado: quem tem um relógio sempre sabe as horas; quem tem dois nunca tem certeza.

Tire do cérebro a missão de organizar

O princípio fundamental da mente organizada para evitar perder ou esquecer as coisas é descarregar do cérebro para o mundo o ônus de organizar. Se pegarmos um pouco de tudo aquilo que está nos nossos cérebros e colocássemos no mundo, é menos provável errar. 

A parte executiva do cérebro fica livre para prestar atenção só no que realmente importa. Antigamente, os pilotos de avião tinham dois controles parecidos, mas com funções diferentes para o trem de aterrissagem e as aletas, a asinha articulada com a asa maior do avião. 

Depois de vários acidentes, os engenheiros tiveram a ideia de exteriorizar a informação. O controle das aletas ganhou o formato de uma aleta em miniatura, e o controle do trem ganhou o formato de uma roda. Os pilotos deixaram de depender da sua memória, porque a informação foi exteriorizada.

Notas finais

A mente organizada explora o funcionamento do nosso sistema de atenção e o estresse ao qual nos expomos quando estamos diante de várias opções. O autor também mostra os problemas do modo multitarefas e incentiva os leitores a buscarem formas de arte mais exigentes.

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Quem escreveu o livro?

Daniel é psicólogo, neurocientista, escritor, músico e produtor musical. Professor de psicologia e neurociência comportamental na McGill University em Montreal, ele é membro ele... (Leia mais)

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